“Feministas? As histéricas?”

Novas perspetivas para velhos problemas… porque estamos em 2021

Joana Valgôde
7 min readMar 28, 2021

Ok eu entendo, mais uma “daquelas feministas” que vem falar sobre este assunto do ‘Feminismo’ e blá blá blá… E eu sei o que estão a pensar: “Já todos nós entendemos que os tempos mudaram e que cada vez mais este assunto do empoderamento feminino está presente no nosso dia-a-dia”, mas têm a certeza que não é preciso um bocadinho mais?
Eu prometo que se continuarem a ler vão ver a vida com uma nova perspetiva e até me vão agradecer no final, vai uma aposta?

Para começarmos este assunto maravilhoso, precisamos de saber o que é.
Mas o que é este conceito? O que é realmente o ‘Feminismo’?
Este conceito, explicado muito rapidamente (porque não temos tempo a perder) é nem mais nem menos do que:

“um movimento social por direitos civis, protagonizado por mulheres, que desde a sua origem reivindica a igualdade política, jurídica e social entre homens e mulheres.

No entanto, para ser completamente honesta (porque aqui trabalha-se com honestidade) eu prefiro esta definição aqui em baixo:

Imagem que demonstra uma definição mais radical sobre o feminismo. “Feminismo — Uma noção radical que as mulheres são pessoas.” Fonte: Pinterest
“Feminismo — Uma noção radical de que as mulheres são pessoas.”
Fonte: Pinterest

Porque reparem o seguinte: e se a médica ginecologista Adelaide Cabete (1867–1935) não fundasse o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP)? Ou se a Carolina Beatriz Ângelo (primeira mulher a exercer o direito de voto) não tivesse levado o seu caso a tribunal? OU SE a Regina Quintanilha, aos 17 anos, não tivesse pedido a matrícula na Universidade de Coimbra para se licenciar em Direito? Ah e imaginem só… não só terminou o curso em três anos (um aplauso já só por esse feito), como foi a primeira mulher a exercer a advocacia ainda antes do decreto de 1918, que consagrou a abertura da profissão às mulheres.

Mas não nos ficamos por aí, sabiam que em Maio de 1872, uma senhora chamada de Victoria Woodhull foi a primeira mulher a candidatar-se à presidência dos Estados Unidos da América? No entanto, só em 1974 é que uma senhora chamada María Estela Martinez de Perón (até o nome é incrível!), que era mais conhecida como “Isabelita”, foi a primeira mulher a realmente assumir a presidência da Argentina, na Argentina.

Estas 5 grandes mulheres foram 5 de muitas feministas que não ficaram de braços cruzados para que nós, atualmente, sejamos vistas (ou que pelos menos caminhemos para lá) como membros ativos da sociedade e da vida no geral.

“Não há limite para o que nós, como mulheres, podemos realizar.” — Michelle Obama

Imagem que demonstra três mãos de punhos fechados para lutar pelo movimento feminista. “Vamos crescer juntas” — Fonte: Pinterest
“Vamos crescer juntas”
Fonte: Pinterest

Acho que já dei exemplos suficientes para percebermos que as mulheres são incríveis. Não só pelos (GRANDES) feitos que foram efetivamente realizados ao longo de toda existência humana, mas por mudarem o mundo a cada dia. Por serem literalmente a mulher-maravilha todos os dias, por serem a multitarefa a todas as horas e ainda (não discutam comigo nesta) por serem as melhores condutoras do mundo! Aliás, de acordo com o relatório anual da Polícia Rodoviária Federal no estado de São Paulo, em 2017, apenas 6,4% dos condutores envolvidos em acidentes de automóvel foram do sexo feminino. E bem… adivinharam… 93,1% foram do sexo masculino. Mesmo assim, estamos todos habituados a ouvir a velha expressão de “Mulher ao volante… perigo constante”. Vamos lá mudar isto gente, já chateia, não?

Das 539 mil pessoas condenadas por violar a lei em Inglaterra e no País de Gales, em 2018, 79% eram do sexo masculino.” — Ana Patrício, MAGG

É verdade que…?

Vamos lá falar de (mais) coisas sérias. Muito do que se ouve falar sobre este movimento, grande parte não representa a verdade porque concordando ou não com o feminismo, todos nós já passámos por situações em que pensávamos que algo era verdade e depois descobrimos que afinal a história não era bem assim… e, por isso, gostámos (e gostamos) de meter os pontos nos i’s e esclarecer toda a verdade. Am i right? Aqui estão alguns dos mitos mais comuns deste movimento:

Imagem de um homem numa marcha das mulheres em que segura um cartaz que diz “Homens reais são feministas”.
“Homens reais são feministas”
Fonte: YourTango, artigo 40 Quotes From Men About Women, Women’s Rights & Feminism

É verdade que as feministas são apenas mulheres?

Podem não acreditar… mas os olhos não mentem e esta fotografia aqui em cima não me deixa mentir. Sim, existem homens feministas! O que acontece aqui é que os homens que são aliados nesta luta, são conscientes dos seus próprios privilégios masculinos. Mas aqui um aparte, os homens feministas nasceram e foram educados por grandes mulheres de certeza!

É verdade que as mulheres feministas não conseguem ser “femininas” ao mesmo tempo?

Se soubessem a quantidade vezes que já ouvi o típico discurso de “As feministas são sempre as mulheres encalhadas, cheias de pelos e sempre com o bigode por fazer”, ficavam chocados.
Primeiro que tudo, para além de ser super ofensivo estar a assumir que as mulheres são “encalhadas” porque não conseguem arranjar um/uma parceiro/a amoroso/a é ridículo porque, sejamos sinceros, as mulheres conseguem tudo o que elas querem. Segundo, o feminismo baseia-se em dar voz às mulheres, não oprimi-las. Logo, o que é que elas vestirem, usarem ou então fazerem ou não a depilação, tem alguma coisa a ver com o assunto?

É verdade que o feminismo ignora os problemas dos homens?

Este movimento sugere que as questões, tanto femininas como masculinas, não são entidades separadas, mas que se baseiam todas do mesmo sistema de desigualdade.

É verdade que as feministas são pessoas muito zangadas?

Ou “zangadas” ou “feministas raivosas” ou então “sempre de trombas” são, definitivamente (em conjunto com todo o estereótipo que odeiam homens), as expressões mais repetidas na história do anti-feminismo. Sim, talvez (às vezes) as feministas podem-se ter expressado de uma forma menos cordial, mas sejamos honestos, elas têm razão de se sentirem assim, com raiva. Porque após tantos anos, após tanta luta, tanto esforço, tantas lágrimas, continua a haver a diferença salarial, a discriminação baseada no género, a agressão sexual sem responsabilização.

“Temos os direito de estar com raiva, temos o direito de estar tristes e chocadas. Temos o direito de estarmos exaustas (…) Nós não fazemos esse trabalho por causa da raiva — fazemos por causa do amor. Nós fazemos isso por causa da compaixão.” — Jessica Valenti

Imagem que demonstra um cartaz numa das marchas das mulheres que diz “Mulheres zangadas vão mudar o mundo.”
“Mulheres zangadas vão mudar o mundo”
Fonte: Pinterest

“Pro-life” ou “Pro-choice”?

Chegamos a um tópico muito delicado, eu sei... Mas leiam.
Cada vez mais este assunto de “És a favor da vida ou a favor da escolha?” tem vindo a causar um grande impacto da nossa vida, especialmente nestes últimos tempos que as redes sociais dominam o nosso dia-a-dia. “Mas o que é que isto tem a ver com o Feminismo que falaste à bocado?” Eu explico… Qualquer (ou pelo menos a maior parte) das feministas que encontrarem vai responder-vos “Claro que sou pró-escolha, as mulheres é que se sabem o que fazer com o corpo delas.” E, normalmente, as pessoas que se identificam com esta via acreditam que todos nós temos o direito humano básico de decidir quando ter filhos e SE querem ter filhos. Já as pessoas que são “pró-vida”, só se preocupam com a vida do óvulo fertilizado/embrião/feto. Preocupam-se muito menos com a vida das mulheres que têm gravidezes indesejadas ou com o bem-estar da criança após o seu nascimento. No entanto, entre todas as crenças e valores que existem no nosso mundo, há quem seja feminista e pró-vida, pois acreditam que se mulheres abortarem estão a tirar o direito e a voz às mulheres que ainda estão para nascer.
Nos links seguintes podemos ver um evento que aconteceu em Washington DC, onde centenas de pessoas se juntaram na “Marcha das Mulheres” para protestar contra o Donald Trump e para lutar pelos direitos das mulheres. E no link seguinte podemos ver as várias opiniões sobre as mulheres millenials que são pró-escolha:

Imagem ilustrativa que diz “Pró-escolha vs Pro-life — Em que é que cada um acredita?” Fonte: ThoughtCo
“Pró-escolha vs Pro-life — Em que é que cada um acredita?”
Fonte: ThoughtCo.

No entanto, estes rótulos de “pró-vida” ou “pró-escolha” colocam as pessoas umas contra as outras, porque não têm de haver apenas duas caixas que limitam as decisões para todas as crenças religiosas, morais, políticas e práticas sobre o aborto, certo?

“Estamos aqui porque outras caminharam antes e porque outras vão caminhar depois. Penso que não é apenas a revolução das filhas, esta é a revolução também das nossas mães e das nossas avós. O movimento de mulheres nos interpela a construir essa transversalidade” — Anabel Fernández Sagasti, senadora

Este movimento vai muito além do que desfiles polémicos e gritos nas ruas, trata-se da união entre as mulheres, trata-se de combater essa ideia maluca de que as mulheres são rivais ou que têm de ser rivais, trata-se de fortalecer a empatia e dar voz às que não têm voz! Porque apesar de todas as conquistas das mulheres, ainda vivemos numa sociedade que nos impõe que a mulher é inferior ao homem. Ainda vivemos numa sociedade que justifica a violência contra a mulher. Ainda vivemos numa sociedade que objetifica a mulher. E para quê? Mas não somos nós, MULHERES, que parimos esta gente toda?

Com tudo isto, só quero acrescentar que não podemos ignorar esta realidade, especialmente agora, que cada vez mais é uma realidade constante que está perante os nossos olhos todos os dias e, ao contrário do que muitos pensam, o feminismo não é o oposto do machismo ok? O nome disso é femismo. O femiNISMO defende a igualdade de género, mulheres e homens.

“Só” queremos ganhar o mesmo que um homem pelo mesmo trabalho.

Bem, como ainda estão aqui a ler isto, e como estamos todos fechados em casa, queria sugerir que vissem este filme maravilhoso que estreou na Netflix em Outubro de 2018, vale muito a pena!
Se não quiserem (porque eu não mando em vocês), espero que levem estas palavras e este conhecimento todo no coração.

Ah! Já me ia esquecendo do que perguntei no início: Então? Ganhei a aposta?

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Joana Valgôde

Marketing, Publicity and PR Student Active Feminist 🤩💪🏻